
Contribuições para a História de Moçambique: por Samora Machel (*)
O Canal de Moçambique publicou um estrato do discurso do saudoso Samora Machel que pela importância, originalidade e minha particular admiração do carisma e sapiência samoriana reproduzi na integra o texto a seguir.
“Preto ou branco não pode explorar o povo. O dever de cada um de nós – dar tudo ao povo, sermos últimos quando se trata de benefícios, primeiro quando se trata de sacrifícios. Isso é servir o povo. Servir o povo. Os nossos conhecimentos devem morrer na terra. Os nossos conhecimentos devem ser examinados constantemente pelo povo. Ouviram, camaradas?... Ouviram?... Ouviram?... Ouviram?...”
“Vão tentar nascer aqui em Moçambique capitalistas pretos – a chamada burguesia nacional. Aqueles que tem têm vocação capitalista, agora com a chegada da independência, estão a deitar barba agora, não é? (aplausos) Ganância de fazer ressuscitar o Colégio Luís Camões – «Luís Camões. Agora que foi…que faliu o dono, vou ser eu. Como sou preto vão tolerar explorando outros pretos!». (Aplausos) É que no sistema capitalista, o médico quando estuda é para explorar. O médico, o médico não quer fazer outra coisa que se não fazer votos para que haja doentes. Havendo muitos doentes, terá mais dinheiro. (Ouviram?) (Ouviram) Agora, o conhecimento é um instrumento explorador no sistema capitalista. O conhecimento do indivíduo – estudou um poucozinho ou licenciou-se. Bem, tem o seu diplomazito, pronto, está pronto, está autorizado a explorar. Faz lá…segui as…seguiu lá…Letras. É senhor doutor, chegou aqui, senhor doutor, doutor de explorar. Ouviram? Ouviram? (Ouvimos!) Não é doutor para ensinar o povo. Doutor aonde também, com um conhecimento bastante reduzido, pequenito, fraco, débil, que necessita de outros, do apoio de outros. Ele não produz senão uma repetição daquilo que foi inculcado pelo capitalismo. É uma repetição. Não cria absolutamente nada, porque está isolado do povo. Está isolado da prática. A primeira ganância, primeira ganância, criar colégios. Quem vai a esses colégios? É o povo? Quem vai lá? Quem vai lá? A escola deixa de ser a base para o povo tomar o poder. É ou não é? – (“É!”) Passa a ser um instrumento de exploração: É ou não é? – “É!” Não queremos em Moçambique. Não queremos isso em Moçambique. Não há lugar para exploradores aqui. Preto ou branco não pode explorar o povo. O dever de cada um de nós – dar tudo ao povo, sermos últimos quando se trata de benefícios, primeiro quando se trata de sacrifícios. Isso é servir o povo. Servir o povo. Os nossos conhecimentos devem morrer na terra. Os nossos conhecimentos devem ser examinados constantemente pelo povo. Ouviram, camaradas? (Ouvimos!) Ouviram? (Ouvimos!...) Alguns já estão a organizar para comprar dez tractores. Já exploraram a zona onde vão produzir. Não é assim? Não há produção individual em Moçambique. Produção colectiva, para colectivamente matarmos a fome, matarmos a miséria no nosso país. Ouviram? (Ouvimos!) Ouviram? (Ouvimos!) Porque esses individualistas são, ao mesmo tempo, instrumentos do imperialismo – não são, eles? Onde vão encontrar o dinheiro? Vocês todos são pobres aqui. Pobres todos aqui, todos. Daqui a três anos nos vamos ver alguns levantar edifícios de quinze andares. Onde arranjou o dinheiro? Onde arranjou o dinheiro? Heim? Não é, vocês ai! Vocês ai! Aí! E nós aqui também! E nós também aqui. Estou a dizer vocês e nós também. Se eu levantar um prédio, façam o favor de me perguntarem!... Ouviram? Perguntar, «então, Camarada Samora, aonde arranjou dinheiro? Três anos? (Risos, aplausos) Três anos de independência! Camarada Samora, então onde está o povo agora? O povo também já tem prédios?» Estão a ouvir? (Estamos!...) Temos de combater contra os exploradores do povo, e se pudermos, liquidar ainda no estado embrionário, matar o pintainho no ovo, heim? (dificuldades de tradução provocam comentários e risos na audiência)" (Sic)
“Vão tentar nascer aqui em Moçambique capitalistas pretos – a chamada burguesia nacional. Aqueles que tem têm vocação capitalista, agora com a chegada da independência, estão a deitar barba agora, não é? (aplausos) Ganância de fazer ressuscitar o Colégio Luís Camões – «Luís Camões. Agora que foi…que faliu o dono, vou ser eu. Como sou preto vão tolerar explorando outros pretos!». (Aplausos) É que no sistema capitalista, o médico quando estuda é para explorar. O médico, o médico não quer fazer outra coisa que se não fazer votos para que haja doentes. Havendo muitos doentes, terá mais dinheiro. (Ouviram?) (Ouviram) Agora, o conhecimento é um instrumento explorador no sistema capitalista. O conhecimento do indivíduo – estudou um poucozinho ou licenciou-se. Bem, tem o seu diplomazito, pronto, está pronto, está autorizado a explorar. Faz lá…segui as…seguiu lá…Letras. É senhor doutor, chegou aqui, senhor doutor, doutor de explorar. Ouviram? Ouviram? (Ouvimos!) Não é doutor para ensinar o povo. Doutor aonde também, com um conhecimento bastante reduzido, pequenito, fraco, débil, que necessita de outros, do apoio de outros. Ele não produz senão uma repetição daquilo que foi inculcado pelo capitalismo. É uma repetição. Não cria absolutamente nada, porque está isolado do povo. Está isolado da prática. A primeira ganância, primeira ganância, criar colégios. Quem vai a esses colégios? É o povo? Quem vai lá? Quem vai lá? A escola deixa de ser a base para o povo tomar o poder. É ou não é? – (“É!”) Passa a ser um instrumento de exploração: É ou não é? – “É!” Não queremos em Moçambique. Não queremos isso em Moçambique. Não há lugar para exploradores aqui. Preto ou branco não pode explorar o povo. O dever de cada um de nós – dar tudo ao povo, sermos últimos quando se trata de benefícios, primeiro quando se trata de sacrifícios. Isso é servir o povo. Servir o povo. Os nossos conhecimentos devem morrer na terra. Os nossos conhecimentos devem ser examinados constantemente pelo povo. Ouviram, camaradas? (Ouvimos!) Ouviram? (Ouvimos!...) Alguns já estão a organizar para comprar dez tractores. Já exploraram a zona onde vão produzir. Não é assim? Não há produção individual em Moçambique. Produção colectiva, para colectivamente matarmos a fome, matarmos a miséria no nosso país. Ouviram? (Ouvimos!) Ouviram? (Ouvimos!) Porque esses individualistas são, ao mesmo tempo, instrumentos do imperialismo – não são, eles? Onde vão encontrar o dinheiro? Vocês todos são pobres aqui. Pobres todos aqui, todos. Daqui a três anos nos vamos ver alguns levantar edifícios de quinze andares. Onde arranjou o dinheiro? Onde arranjou o dinheiro? Heim? Não é, vocês ai! Vocês ai! Aí! E nós aqui também! E nós também aqui. Estou a dizer vocês e nós também. Se eu levantar um prédio, façam o favor de me perguntarem!... Ouviram? Perguntar, «então, Camarada Samora, aonde arranjou dinheiro? Três anos? (Risos, aplausos) Três anos de independência! Camarada Samora, então onde está o povo agora? O povo também já tem prédios?» Estão a ouvir? (Estamos!...) Temos de combater contra os exploradores do povo, e se pudermos, liquidar ainda no estado embrionário, matar o pintainho no ovo, heim? (dificuldades de tradução provocam comentários e risos na audiência)" (Sic)
(Samora Machel) (*) O 1º discurso de Samora Machel quando chegou a Beira em 14 JUN 1975
(#) Titulo da responsabilidade do «Canal de Moçambique» usando passagem do discurso.
