terça-feira, 31 de julho de 2007

A universidade Está em Crise em Moçambique

Defende o filosofo Severino Ngoenha (II)
Cada vez que leio este texto fico preocupado e questiono a mim mesmo "Para onde está a caminhar a pátria amada?" Acredito que tenha lido também numa dessas publicações que teve acesso, mas vale a pena reler. Veja se entendeu o que o filosofo tentou dizer neste texto.
Para aquele filósofo “as nossas universidades reproduzem modelos ocidentais que não respondem aos problemas reais da nossa sociedade”. Para Ngoenha a universidade tem que “pensar em modelos que sirvam para responder os problemas reais da sociedade”. A tese de Severino Ngoenha pode ser interpretada como uma resposta ao actual estado do ensino superior onde na corrida para os diplomas não se olha a meios.
Na nossa edição de sexta-feira (vsff canal nº 229) reportámos o caso de uma jovem com lugar no Comité Central do partido Frelimo que recorreu a métodos fraudulentos num exame de uma instituição de ensino Superior. De facto é urgente repensar o que se pretende com o Ensino Superior em Moçambique. Porque não parece sensato que se continue a formar indivíduos que pouco ou nada acrescentam à sociedade moçambicana. Em muitos casos, tais indivíduos adquirem a sua formação com recurso a fundos do Estado.

A crise da universidade em Moçambique tem sinais visíveis segundo Severino Ngoenha, que se revestem apenas pela abundância de funcionários e consultores.

“Não se está a formar empreendedores em Moçambique mas sim funcionários e consultores”.

“É inconcebível que um país como Moçambique com a fartura de terra que tem”, defende Ngoenha, “tenha os agrónomos baseados nas cidades e a fazerem trabalho burocrático”.

“Só isso explica porque é que num país como o nosso a maioria dos estudantes vá para os cursos de Direito e Ciências Sociais”. “Por onde andam os nossos agrónomos?”.

Severino Ngoenha deu como exemplo o caso de Israel que “A partir de um deserto construíram um grande país”.

Ilustrou o caso de arquitectos que estão preocupados em desenhar estruturas de material convencional, quando podiam estar a desenhar plantas de casas ou moradias com material local, como caniço, bambu, entre outro material. “Os nossos arquitectos só sabem desenhar edifícios que custam milhares de dólares”, acusa o entrevistado do «Canal de Moçambique».

“Em Moçambique o número de possibilidades de negócio aumentou. Mas quem está a aproveitar essas oportunidades são estrangeiros. É inconcebível”.
“Onde estão os empreendedores moçambicanos?”, questiona Ngoenha que também defende “que não basta formar, é preciso questionar o modelo de formação.”

A questão dos modelos de formação a adoptar em Moçambique já tem barbas brancas. Contudo, os sucessivos governos moçambicanos preferem fingir que resolvem o problema exibindo vitórias estatísticas que estão longe de ludibriar a tristeza da realidade. É por isso que em cada ano as escolas despejam para o mercado jovens que engrossam o enorme exército de desempregados.

A questão da ostentação de títulos académicos que tem sido prática muito comum em Moçambique não escapou a reflexão de Ngoenha que considera que “diploma não é tudo”.

“Podes ter o diploma da mais reputada universidade, mas quando sais de lá, tens que jogar. E jogar é demonstrar e aplicar o nível de conhecimento para questões de desenvolvimento”.A aplicação e demonstração de conhecimento não têm sido uma prática em Moçambique. Muitos dos doutores moçambicanos preferem trilhar pelo caminho do «graxismo miltante» e, assim acedem aos «jobs for the boys» disponíveis nas duas formações políticas de relevo na política moçambicana e, desse modo, vão usufruindo de mordomias sem que a sociedade moçambicana usufrua dos seus saberes.
Por: (Celso Manguana e Luís Nhachote) Canal de Moçambique 2007-01-09